Reforços de peso chegam à Brasília para fortalecer a dupla de futebol americano da capital. Para comandar o setor ofensivo, o Leões de Judá trouxe Jamere Murphy, 26 anos e natural de Detroit. Já o Tubarões do Cerrado (TdC) trouxe Talon Roggasch, de 28 anos, que possui larga experiência no futebol americano do Brasil. Talon atuou pelo América Locomotiva na temporada 2018.
A última temporada foi histórica para os dois maiores times de futebol americano de Brasília. Pela primeira vez na história o Leões se classificou para os playoffs da primeira divisão nacional. E o Tubarões conseguiu o título da conferência Centro-Oeste pela primeira vez, cobiça antiga do tradicional time da região central do Brasil. Mas com os novos reforços, os dois times querem chegar mais longe ainda em 2019.
Após o final da última temporada o quarterback titular do TdC, Lucas Tojal, deixou o Brasil para jogar nos Estados Unidos. Com a vaga aberta o técnico Fabrício Ataíde e sua comissão técnica foram cirúrgicos na contratação de Talon. Segundo Fabrício, alguns jogadores demonstraram interesse em jogar pelo atual campeão do Centro-Oeste, que foi um dos melhores ataques da BFA de 2018, mas não foram concretizadas propostas. O encontro com Talon foi considerado como um “casamento” pelo técnico: “Ele pode jogar em um time que admira e nós observamos que ele pode nos levar longe”, disse Fabrício.
O Leões de Judá foi mais incisivo na busca por um quarterback novo. Após o fim da temporada a diretoria viu a necessidade de buscar um novo comandante de ataque e queria um nome de peso. Antes de acertar com Jamere o Leões fez proposta por Romário Reis, atualmente no T-Rex, mas não houve acordo. Assim, por intermédio do linebacker Eder “Jason” o Leões encontrou em Jamere as características ideais para elevar o nível do time.
Predestinados
Em entrevista, tanto Jamere quanto Talon demonstraram o quanto são apaixonados pelo futebol americano e ambos já sentiam que seus destinos como atleta eram fora dos EUA. Talon conta que quando saiu pela primeira vez do seu país natal para jogar, a prioridade dele era a Europa. No entanto a proposta do Ceará Caçadores, em 2016, mudou os planos do atleta natural do Colorado. “Eu sempre senti em meu coração, desde criança, que viajaria para a América do Sul. Quando surgiu a oportunidade aceitei como um presente”, revelou Talon.
A adaptação ao Brasil foi difícil no começo. Acostumado a baixas temperaturas na terra natal, o calor do Ceará castigou Talon nos primeiros meses. No entanto a convivência com os colegas de equipe e o entrosamento dentro de campo deixou tudo mais fácil. “Fiquei surpreso em ver como os jogadores têm tanta paixão por esse esporte que é bem novo para o Brasil. Eles jogam com o coração e entregam o que eles têm. Depois de ver isso eu só queria ficar e ajudar esse esporte a crescer aqui”, disse Talon.
Jamere chegou ao Brasil há poucos dias, mas mesmo antes de chegar o atleta sonhava em atuar em países diferentes, como o Brasil. E quando a oportunidade apareceu ele aproveitou. “Eu escolhi o Brasil porque quando criança você sonha em se tornar atleta profissional. Eu sempre aceitei desafios. Minha vontade e a minha ética profissional me fizeram escolher o Brasil”, disse Jamere.
Objetivos altos
Quando se trata de traçar metas para a temporada, Leões e Tubarões são incisivos na respostas: buscar o título nacional. Prova disso é o investimento em Talon e Jamere, tidos como peças fundamentais para o cumprimento do objetivo. Igualmente ambiciosos, a dupla de norte-americanos chega com a responsabilidade de manter a ascensão que Leões e Tubarões conquistaram nos últimos anos.
Com a mentalidade competitiva característica dos atletas norte-americanos, Jamere e Talon querem fazer mais do que conquistar títulos, querem fazer o trabalho com excelência. “Vou dar 140% de mim pelo time nesta temporada. Pretendo jogar num alto nível competitivo em cada descida que estiver em campo”, disse Jamere, que além de ser o quarterback titular foi designado também para trabalhar com a evolução dos outros QBs do elenco.
Segundo Jason, com as atuações de Jamere nos treinos é esperado que haja uma melhora significativa em todos os setores do time, tanto no ataque quanto na defesa. Para o linebacker, o grande diferencial dos QB americanos é a leitura do que está acontecendo. Isso faz com que todos os setores tenham evolução. “A OL vai ter que proteger mais para o Jamere ter mais tempo de leitura. Os WR vão ter um tempo de bola diferenciado. E pela habilidade dele de correr, vai passar conhecimento para os RB. E isso se reflete nos treinamentos da defesa” analisou.
No ano anterior o Leões se caracterizou por ter um jogo essencialmente corrido e usar em praticamente todas as jogadas a formação “flexbone”. A chegada de Jamere, que se caracteriza por ter um versátil, alternando corridas e passes, deve mexer com a estrutura tática do Leões para 2019. “A versatilidade do Jamere faz com que busquemos um plano de jogo que ele se encaixe mas sem perder o ano de 2018”, disse Jason.
O caso de Telon é semelhante. O novo quarterback do TdC também foi descrito pelo treinador Fabrício com um quarterback móvel, que sabe “resolver com as pernas”. No entanto o estilo de jogo do Tubarões deve sofrer poucas alterações, visto que o jogo aéreo foi constante e muito eficiente em 2018. “Telon vem para jogar dentro do nosso sistema. Temos certeza que ele vai entregar o que a gente precisa que ele entregue”, disse Fabrício.
Não é incomum que os “gringos” tenham outras funções no elenco além de jogador, ou mesmo atuem no ataque e defesa durante uma partida. Mas esta não será o caso de Talon em 2019. Mesmo sendo conhecido pela habilidade de jogar como wide receiver o novo reforço atuará somente como quarterback e não terá função na comissão técnica.
Good boys
No cenário ainda semi-profissional do futebol americano no Brasil, contratar jogadores pode representar um risco financeiro. Por isso a contratação tem que ser certeira e deve trazer impacto positivo dentro e fora de campo. Conhecer as características dos atletas fora de campo tornou-se fundamental na decisão de investir ou não em atleta norte-americano. Neste quesito Talon e Jamere são o contrário dos famosos “bad boys”, jogadores com comportamento intempestivo fora de campo, chegam com fama de “good boys”.
Mesmo de longe a comissão técnica buscou conhecer as características de Jamere fora de campo. A identificação entre time e jogador aconteceu rápido, baseado na religião. O Leões de Judá é um time declaradamente cristão, assim como Jamere que que compartilha dos mesmos valores religiosos. Jamere inclusive trabalhava voluntariamente em uma igreja nos EUA.
Acompanhar as redes sociais do atleta é uma ferramenta que Leões e outros times usam para saber mais sobre as potenciais contratações. “O Facebook e Instagram ajudaram muito. Fiz monitoramento das postagens e vi histórias do Instagram pra saber a rotina. Quase um trabalho da FBI.” brincou Jason.
Do outro lado, Jamere também buscou informações sobre o Leões de Judá e se encontrou uma estrutura que o agradou e que o fez aceitar a proposta. “ Eu sei que o Leões tem uma comissão técnica excelente, grandes jogadores e uma ótima organização”, acrescentou Jamere.
Mais próximo de Brasília, Talon foi observado dentro de campo pelo técnico Fabrício com regularidade enquanto atuou pelo América Locomotiva – MG em 2018. Fora das quatro linhas, Talon foi muito bem recomendado pelos treinadores antigos, tanto do América quanto do Ceará Caçadores, time que defendeu em 2016. “Falamos com os treinadores e o Talon foi recomendado como um daqueles americanos que vem para o Brasil com muito mais vontade do que apenas fazer dinheiro”, analisou Fabrício.
Além disso Talon fala português fluentemente e é casado com uma brasileira, o que torna a sua identificação com o Brasil ainda mais forte. “Ele tem o brasil não só como um destino comercial e profissional, mas também afetivo”, completou o treinador.
O head coach citou o bom o exemplo que existe no próprio TdC, o também norte-americano James Springfield, que está há cinco anos no Tubarões e nunca deu nenhum tipo de problema extra-campo. “O James é sempre parte da solução, nunca dos problemas. Imaginamos que o Telon vem para fazer parte desse grupo de americanos que são diferenciados, dentro e fora de campo”, comparou Fabrício.
Estreias
Tubarões e Leões de Judá farão o primeiro jogo na temporada pelo Campeonato Candango, em que ambos já estão na semifinal, em rodada dupla no dia 18 de maio. Local e adversários ainda não foram definidos. Deverá ser a estreia dos novos contratados. Se vencerem, Jamere e Talon serão adversários já na final do campeonato regional, marcada para o dia 1° de julho em Brasília.
3