Recentemente, a comunidade desportista (mais especificamente sua esfera futebolística) ficou animada com um possível retorno do Campeonato Candango depois que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), declarou a reabertura do comércio no próximo dia 3 de maio.  

É importante reforçar que a reabertura do comércio antes do chamado pico de casos de infecção pelo novo coronavírus vai contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O órgão aponta o isolamento social como a mais forte arma no combate contra a proliferação do vírus. Contudo, já que pretende reabrir o comércio, Ibaneis deve ter algo em mente quanto à situação dos campeonatos locais, que tanto precisam de amparo, não é? Não, não é.

Perguntado justamente sobre a possibilidade do retorno do Candangão, ainda que fosse de portões fechados, o excelentíssimo governador do Distrito Federal, flamenguista declarado, foi contrário. “A gente tem uma dificuldade muito grande porque Brasília não tem grandes clubes. Através da Secretaria de Esporte, a gente vem discutindo com alguns clubes algumas maneiras para subsidiá-los, mas é muito difícil porque não há garantia nenhuma.” 

Nós da imprensa esportiva do Distrito Federal sabemos da gravidade da declaração do sr. Ibaneis. Primeiro que, mais grave do que qualquer questão voltada ao esporte, o governador ignora o alto número de casos da covid-19 ao assumir a irresponsabilidade de reabrir o comércio em Brasília. Segundo que o chefe do Executivo local já se mostrou completamente alheio às necessidades do nosso esporte quando fechou um patrocínio milionário do Banco Regional de Brasília (BRB) com a equipe de basquete do Flamengo-RJ.

Com a recente declaração, somadas às atitudes anteriores, o futuro presidente do rubro-negro carioca, hoje no cargo de governador do DF, demonstra seu total desconhecimento sobre o futebol de Brasília. Se eu tiver muita sorte, essas palavras vão cair no colo do governador, e ele vai ler este texto enquanto saboreia uma dose de uísque, sentado numa cadeira dentro de seu escritório.  

Acaso não sabeis, Ibaneis, que o Distrito Federal tem muitos títulos brasileiros de futebol? Sim, governador. Muitos! Primeiro com o Gama, pioneiro na arte de levantar troféus. Em 1998, o alviverde ergueu a taça da Série B e alcançou pela primeira vez um título de cunho nacional para o DF. Mais tarde, com o caçula Brasiliense, que ergueu a mesma Série B, mas em 2004. Dois anos antes, o Jacaré havia conquistado a terceira divisão de 2002 — mais um troféu nacional na galeria de Brasília.

Em 1998, o Gama derrotou o Londrina por 3×0 e se sagrou campeão brasileiro da Série B. Foto: arquivo

Mais recentemente, o Minas Brasília derrotou o Vitória-BA e trpuxe para a capital o título da Série A2 do Brasileirão Feminino, nosso primeiro troféu na categoria. Isso sem contar o título da Copa Verde conquistado pelo Brasília, em 2014, num dos maiores plantéis da história do colorado.

E olha que eu ainda nem cheguei nas campanhas de destaque, como o vice da Copa do Brasil de 2002 alcançado pelo Brasiliense, na qual a arbitragem foi a maior protagonista do título conquistado pelo Corinthians. Há também os vices da Série C de 2004 e o Copa Verde de 2016, alcançados pelo Gama, em campanhas que levaram o nome do futebol de Brasília aos lugares altos do esporte nacional.

Imagem do jogo de volta da final da Copa do Brasil de 2002. Ah, se não fosse os erros de arbitragem… Foto: Reprodução

Brasília é muitos anos mais jovem que os outros estados brasileiros, o que é uma das primeiras justificativas para o esporte da nossa capital ainda engatinhar. Mas temos muitos poréns por aqui. Muitos! 

Quando foi que tivemos por aqui o devido incentivo aos nossos esportistas (e aqui eu incluo os atletas de todos os esportes)? Por favor, governador, nós merecemos essa resposta. E por que raios até hoje o senhor nunca nos explicou o motivo de patrocinar com um valor tão alto um time de fora, ao invés de buscar meios de melhorar as condições de prática do futebol de Brasília?  

Por que o senhor não faz uma visita aos estádios da capital federal além do agora privatizado Mané Garrincha para notar a situação dos espaços destinados ao futebol praticado pela nossa capital? Por que seu secretário de Esporte e Lazer, Leandro Cruz, não foi visto em nenhum jogo do Candangão 2020 sequer? O secretário, inclusive, é um estranho para muitos que trabalham de verdade em prol do futebol local.

Lembre-se, governador, que, além de todos os troféus orgulhosamente e bravamente erguidos pelos gigantes de nossa capital, temos grandes nomes do esporte que daqui saíram. É o caso dos pentacampeões Lúcio e Kaká, do meio-campista Felipe Anderson, hoje camisa 8 do West Ham, da Inglaterra. Lembre-se de Oscar Schmidt, Nelson Piquet, Paula Pequeno e Joaquim Cruz. De Caio Bonfim, Leila Cruz, Victória Albuquerque e tantos outros que fazem sucesso em competições nacionais atualmente.

Cria do futebol local, Victória Albuquerque é campeã da Copa Libertadores pelo Corinthians, além de várias conquistas individuais. Foto: Divulgação

É muito conveniente mesmo apontar como gigantes clubes com estrutura, patrocínios milionários e apoio de suas federações e da CBF quando estes conquistam a América, como foi o caso de seu Flamengo no ano passado, como você deve se lembrar. Como se esquecer de um título de tal expressividade, certo? 

Aliás, o famigerado “título de expressão” é muito almejado pelas equipes do DF. Mas como conquistar novamente o Brasil ou a América sem o devido apoio das autoridades competentes? Afinal, se por vezes é tão complicado simplesmente entrar em contato com nossa Secretaria de Esporte e Lazer, o que dizer de uma equipe que busca apoio financeiro par disputar competição x ou y? 

Quantas vezes nós não nos deparamos com um atleta vendendo doces pelos bares de Brasília a fim de custear uma viagem ao exterior para disputar um troféu importante de qualquer modalidade que seja? O atleta, senhor Ibaneis Rocha, deveria ter o mesmo valor que um político e um empresário. Assim como os cientistas, os artistas, os professores… 

Não sou hipócrita, Ibaneis. Deixe alguém que é criado nas arquibancadas dos estádio de Brasília lhe dizer uma coisa: não é comparando com equipes já consolidadas do futebol do Brasil que o senhor deve medir a grandeza dos clubes de futebol do DF.

Por fim, pense bem antes de falar que não temos grandes times em nosso futebol. Primeiro porque é uma grande mentira, visto que já conquistamos coisas grandes no cenário nacional, mesmo sem o devido apoio de nossos governantes. Segundo que eu duvido que você convença o torcedor de Gama ou Brasiliense que eles torcem para clubes pequenos.

5 thoughts on “Não há um grande líder à frente do DF; esporte é deixado de lado

  • Não posso acreditar que um governador tenha este pensamento sobre o futebol.

    Governador, não pode ignorar a história deste esporte em Brasília;
    Muito cuidado com suas declarações, acredito que está sendo mau assessorado;
    Um governado precisa atuar pensando em Brasília e pensar em Brasília, é ter políticas públicas e atuação em todos os seguimentos;
    Um exemplo disto é não matar a história esportiva dos cidadãos Brasilienses:
    1- Representantes na fórmula 01;
    2- Representantes no Basquete Nacional;
    3- Representantes no voleibol;
    4- Representantes no Futebol;
    5- Representantes no atletismo, etc, etc, etc….

    Talvez o senhor não saiba, vou culpar sua assessoria ou não foram consultados:

    Onde se encontra o maior índice de violência nas cidades?
    A maioria da população carcerária de adultos e adolescentes, são homens ou mulheres?
    As escolas e projetos de futebol de base, ainda que sem qualquer investimento ou projetos que possam dar melhores condições pra atender as crianças e adolescentes, atuam em cada região administrativa com cerca de mil crianças e adolescentes por cidade;
    Todos em sua maioria, se quer têm duas refeições diárias;
    Já nos CAJEs e presídios, são entorno de cinco refeições diárias e tem que ser assim, porém, nossas escolas e projetos de futebol, atuam sem este respaldo, treinamos em campos sem se quer ter um banheiro, um ponto de água potável, sem abrigo ou vestiários;
    É preciso pensar na população carcerária, porém é preciso dar atenção as crianças e adolescentes que atuam no contra turno escolares;
    Espero que ao lerem este texto, não nos tenham como inimigos, como adversários, entendam nosso clamor, tenham empatia, pensem por nós, sintam as nossas angústias e dores, ouçam nosso pedido de socorro;
    Repensem a atuação do governo em relação a este público invisível, porém saiba que este público está inserido em todas as regiões administrativas, organizados em escolas de futebol e projetos de futebol, organizamos os próprios campeonatos, existimos com o apoio das famílias, porém poderia ser feito muito mais e melhor, se tão somente percebesse que há vida entre os informais, há muita vida entre os projetos invisíveis.

  • Não posso acreditar que um governador tenha este pensamento sobre o futebol.

    Governador, não pode ignorar a história deste esporte em Brasília;
    Muito cuidado com suas declarações, acredito que está sendo mau assessorado;
    Um Governador precisa atuar pensando em Brasília e pensar em Brasília, é ter políticas públicas e atuação em todos os seguimentos;
    Um exemplo disto é não matar a história esportiva dos cidadãos Brasilienses:
    1- Representantes na fórmula 01;
    2- Representantes no Basquete Nacional;
    3- Representantes no voleibol;
    4- Representantes no Futebol;
    5- Representantes no atletismo, etc, etc, etc….

    Talvez o senhor não saiba, vou culpar sua assessoria ou não foram consultados:

    Onde se encontra o maior índice de violência nas cidades?
    A maioria da população carcerária de adultos e adolescentes, são homens ou mulheres?
    As escolas e projetos de futebol de base, ainda que sem qualquer investimento ou projetos que possam dar melhores condições pra atender as crianças e adolescentes, atuam em cada região administrativa com cerca de mil crianças e adolescentes por cidade;
    Todos em sua maioria, se quer têm duas refeições diárias;
    Já nos CAJEs e presídios, são em torno de cinco refeições diárias e tem que ser assim, porém, nossas escolas e projetos de futebol, atuam sem este respaldo, treinamos em campos sem se quer ter um banheiro, um ponto de água potável, sem abrigo ou vestiários;
    É preciso pensar na população carcerária, porém é preciso dar atenção as crianças e adolescentes que atuam no contra turno escolares;
    Espero que ao lerem este texto, não nos tenham como inimigos, como adversários, entendam nosso clamor, tenham empatia, pensem por nós, sintam as nossas angústias e dores, ouçam nosso pedido de socorro;
    Repensem a atuação do governo em relação a este público invisível, porém saiba que este público está inserido em todas as regiões administrativas, organizados em escolas de futebol e projetos de futebol, organizamos os próprios campeonatos, existimos com o apoio das famílias, porém poderia ser feito muito mais e melhor, se tão somente percebesse que há vida entre os informais, há muita vida entre os projetos invisíveis.

  • Boa noite! Eu sou Rubens Mota, estamos montando uma associação dos treinadores de escolinhas de futebol de Brasília e entorno, diante dessa declaração do Governador do df estamos montando alguns vídeos e falas. Vamos mostrar ao governo que nosso Df tem História, essas escolinhas fazem o futebol fomentar em todas as cidades satélites. Brásilia é um celeiro de excelente atletas, Somos sim amador, esse Futebol de base que todos os dias essas escolinhas fazem acontecer, faz sim um movimento em todo df…. Agora sim! Para que possa melhorar, precisamos sim do apoio do governo, já que o Sr acha que não temos nada! Ajude a federação, nossa associação a melhorar, ajude nossos campeonatos a ficar com qualidade, fiscalize para que fique melhor, faça história junto com nós governador, nunca e nem um governador ajudou nosso profissional ou base, aguardamos que o Sr possa nós da oportunidade de mostrar ao governo que precisamos de apoio para ir além. Obrigado e façamos essa mensagem chegar ao nosso governador.

  • O governador deve ter memória curta…

    Não lembra das tacas que Gama (em 2001 e 2002, tanto aqui no DF como no Maraca) e Brasiliense (em 2005) deram no “mengaum” dele…

    Aliás, o retrospectos dos times aqui do DF a qual ele diz não serem grandes, frente ao poderoso campeão da América e mais popular clube brasileiro, não demonstra essa superioridade toda não…

    Como sempre um falastrão, já arrumou problemas quando quis “zoar” o vasco da Gama, e agora arruma problemas com torcedores de times que em suma maioria, botaram ele no poder… um tremendo irresponsável e inconsequente !!!

  • Certamente foi um desrespeito ao futebol de Brasília. Por mais que isso fosse verdade, o governador do DF nunca podia falar uma coisa dessa. Teria que incentivar e apoiar o esporte local para que se desenvolva. Lamentável elegeram um cara desse!

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