Aposta esportiva, um algoz já conhecido do futebol candango
O universo das apostas tomou conta do mundo esportivo. É cada vez mais normal ver um torcedor falando que ‘fez uma fézinha’ em seu clube por acreditar na vitória, e as mais diversas casas viraram patrocinadores de times e de campeonatos. O problema é quando esse mundo invade as quatro linhas e começa a afetar dentro de campo, e isso é o que a Polícia Federal busca evitar com a Operação Penalidade Máxima.
A ação busca combater fraudes com esquemas de casas de apostas no futebol, e já está na segunda fase da investigação, que é comandada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), onde surgiram as primeiras denúncias de ‘compra’ de jogadores.
Como funciona?
Apostadores e/ou casas de apostas entram em contato com um jogador oferecendo uma quantia por tomar cartão amarelo ou vermelho, ganhar um escanteio, cometer pênalti, e por aí vai. Na maioria das vezes, o atleta recebia uma quantia antes da partida, que servia como sinalização de que aquela ação ilegal deveria ocorrer.
Nessa segunda fase da operação, diversos jogadores da elite do futebol brasileiro foram denunciados por atos cometidos nas Séries A e B do Brasileirão do ano passado, assim como em estaduais deste ano, e estão sendo investigados. No futebol candango, infelizmente, essa é uma prática também já conhecida.
Em 2021, quando esse universo ainda não tinha tomado conta do mundo esportivo, já rolavam suspeitas no futebol candango, como no campenato de 2021. Na ocasião, o Samambaia venceu o Formosa por 6 a 1 e, em seguida, foi derrotado pelo Ceilândia por 8 a 1. Em ambos os casos, os pagamentos eram altos para os placares pouco prováveis.
No ano seguinte, em 2022, um atleta do Paranoá recebeu uma oferta para fazer parte da organização criminosa. Ele receberia cerca de 400 euros por partida para fazer o que os apostadores mandassem. Prontamente, o atleta negou a oferta e reportou à diretoria do clube a situação. Na época, a Cobra Sucuri entrou em contato com o perfil que, mesmo confrontado com prints, negou estar fazendo algo errado.
O DF Esportes entrou em contato com o Luís Felipe, gerente de futebol do Paranoá, que disse que o clube comunicou à Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), aos demais clubes que disputavam o torneio, e também mandaram um ofício ao Ministério Público. “O promotor responsável ouviu a diretoria e os atletas, até fomos elogiados por denunciar o caso, mas nunca mais falaram sobre. Ficamos sem uma conclusão”, disse ele.
Medida provisória
Após os mais recentes escândalos, quando 16 pessoas, incluindo sete jogadores, se tornaram réus, o Ministério da Fazenda encaminhou à Casa Civil uma medida provisória que visa a regulamentação de apostas esportivas virtuais. Elas são legais no Brasil pela Lei 13.756/18, mas ainda não foram regulamentadas. Por isso, os sites que aqui operam são hospedados em outros países.
Com a medida provisória, será criada uma quota fixa para o mercado de apostas. O documento propõe que as empresas sejam taxadas em 16% sobre a receita obtida nos jogos feitos, subtraídos os prêmios pagos aos apostadores. Outra cobrança está no prêmio recebido pelo apostados, que terá uma tributação em 30% de Imposto de Renda, respeitando a isenção de 2.112.
Além disso, a medida provisória também proíbe que dirigentes, técnicos, árbitros e jogadores de futebol realizem apostas, o que é uma determinação da FIFA, entidade máxima da modalidade. Essa ação busca a integridade do esporte.
O texto teve como co-autores os ministérios do Planejamento e Orçamento, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, da Saúde, do Turismo e dos Esportes, e agora depende da assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O DF Esportes entrou em contato com Daniel Vasconcelos, presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), que disse ter entrado em contato com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e com o Tribunal de Justiça Desportiva do DF (TJD-DF) quando as denúncias surgiram.
Nós, que fazemos as coisas com honestidade, não podemos ser de acordo com o crime, e essas ações são um crime praticado contra o futebol. Em Brasília, quando houveram suspeitas, bem antes de estourar essa bomba como estamos vendo agora, eu fiz questão de fazer a denúncia, para que a nossa imagem não ficasse manchada com coisas erradas. Tenho a confiança de que o Ministério Público e a Polícia Federal vão desvendar todo o esquema.
Depois dos casos ocorridos com o Samambaia e Paranoá em temporadas passadas, neste ano, em partida válida pela Copa Verde, Luiz Estevão, presidente do Brasiliense, impediu a entrada de profissionais especializados em ‘scouts’ da partida, que fornecem dados para sites de apostas. A Associação Brasiliense de Cronistas Desportivos (ABCD) divulgou, enquanto a bola ainda rolava, uma nota de repúdio aos fatos ocorridos no Serejão naquela ocasião, informando que acionou a Polícia Militar, denunciou o caso ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e entrou com uma ação judicial contra o clube.
O pedido de instauração de inquérito civil da ABCD contra o Jacaré, porém, foi indeferido pelo MPT. O procurador entendeu que a denúncia tem caráter de interesse individual, com ausência de repercussão social e sem referência ao trabalho infantil, trabalho escravo, desrespeito às normas de saúde e segurança, assédio moral ou qualquer meta prioritária de atuação do órgão.
A investigação
O grupo investigado era liderado por Bruno Lopez, que se apresentava como empresário de jogadores. Os demais suspeitos se dividiam em dois grupos: o de apostadores, que aliciavam os jogadores para forçar lances nos jogos; e os de financiadores, que forneciam o dinheiro para pagar os atletas aliciados.
Bruno Lopez, o chefe da máfia, foi preso em casa, em São Paulo, em fevereiro deste ano, ainda na primeira fase da operação. Contudo, seguiu cometendo o crime mesmo da prisão. Outros dois suspeitos, Thiago Chambó e Romário Hugo dos Santos, também foram presos.
Flávio Dino, ministro da Justiça, pediu à Polícia Federal que fosse aberto um inquérito para ajudar na investigação, que considera as casas de apostas como vítimas do esquema.
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