O futebol é maravilhoso por, entre tantas coisas, dar a oportunidade de redenção a seus protagonistas. No Capital, campeão em 2018, essas histórias sobraram. Hugo Almeida, Guilherme, Jobson e Matheus Lorenzo viveram dramas pessoas distintos, mas que poderia ter feito com que eles não estivessem nessa final para contar história e, claro, fazer história.

O goleiro Matheus Lorenzo, que pegou dois pênaltis e garantiu o título à Coruja, passou recentemente por momentos difíceis para qualquer jogador de futebol. Filho do ex-preparador e atual dirigente do Brasiliense, Paulo Henrique, o jovem resolveu seguir os passos de goleiro, posição que seu patriarca conhecia bem. Seu primeiro contrato profissional veio justamente no Jacaré, quando mal completará a maior idade. Matheus ingressou direto nos profissionais, já que o Brasiliense não conta com divisões de base e, entre um empréstimo aqui e outro acolá, foi evoluindo como jogador. Até aí, tudo bem.

Acontece que, em 2016, o Brasiliense viveu uma crise de goleiros que durava desde a saída de Welder e Edson Kolln, anos antes. Matheus Lorenzo então, ainda muito novo, foi o escolhido para iniciar o ano como titular da mega amarela. Dono de forte personalidade, ele jamais recusaria o desafio, mas como o próprio já revelou, ainda não era o momento. O time estava mal em campo e o isso refletiu também no jovem arqueiro. Algumas falhas, bolas defensáveis, derrotas. Foi o suficiente para o mundo de Matheus desabar. Da alegria de ser titular de um grande clube à tristeza de falhar e perder a posição, ele viu algo pior acontecer: após resultados ruins do Brasiliense, Matheus foi ameaçado de morte nas redes sociais. Sabiamente, seu pai, diretor de futebol do clube, o afastou da equipe e posteriormente rescindiu seu contrato. Um momento complicado na vida de qualquer um, principalmente para um garoto que estava apenas jogando futebol. Um susto, mas que foi superado.

De 2016 até 2018, Matheus Lorenzo passou por muita coisa. Fez parte do Sobradinho semifinalista em 2017 e foi rebaixado com o Paranoá em 2018, chegando já na reta final da campanha. Nas poucas vezes que encontrei o goleiro para conversar, ele sempre demonstrou serenidade sobre a fase no Brasiliense e deixou claro que estava trabalhando para mostrar que poderia ser um grande goleiro, titular, jogador de confiança, desmontando sempre a mesmo personalidade forte do início da carreira.

Na atual segunda divisão, o Capital promoveu rodízio de goleiros e, por isso, ele não atuou em todos os jogos. Mas foi o escolhido na partida mais importante. Depois do empate no tempo normal, o treinador Hugo Almeida dizia para o time: “Façam a parte de vocês. O Matheus treinou bem e vai pegar um pênalti”. Um não, Hugo. Dois. Primeiro a cobrança do experiente Radamés, que já havia errado na final da primeira divisão. Radamés alias repetiu o canto e Matheus acertou a batida. No segundo, pegou a cobrança do jovem Marquinhos, deixando Guilherme tranquilo para converter e trazer o caneco para o Capital.

O futebol tem dessas coisas. O vilão de outrora hoje foi herói. Encheu de orgulho familiares e amigos que nunca duvidaram de suas capacidades. Mostrou para quem o ameaçou que a resposta se dá dentro de campo. E que resposta. Pegar dois pênaltis em uma decisão é para poucos. Temos exemplos de goleiros de grandes equipes que sequer acertam o canto das cobranças. Dito isso, o título do Capital é coletivo. Não tem destaques individuais. Mas Matheus Lorenzo, por sua vez, merece ter reconhecido seu momento de glória.

Por Pedro Breganholi

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