Júnior Brasília: o primeiro atleta do DF a ser convocado para a Seleção e pupilo de Zico no Flamengo

Foto: Reprodução

José Francisco Solano Júnior, ou conhecido simplesmente como Júnior Brasília, é natural de Alvinópolis, mas chegou na capital federal com apenas um ano de idade. Daqui, saiu para esbanjar seu talento na Seleção Brasileira, Flamengo e Cruzeiro. Hoje, morador da Ceilândia, ele busca formar cidadãos, assim como ajudou a formar o repórter que vos fala, que chegou a ser aluno de futsal do ex-ponta direita.

Hoje com 65 anos, Júnior já é aposentado, mas continua sendo professor de educação física temporário da Secretaria de Educação, e carrega grandes lembranças que sempre estarão frescas em sua cabeça. Assim, ele contou algumas de suas várias histórias em quase uma hora de conversa através de chamada de vídeo.

Trajetória em Brasília

O ex-jogador literalmente cresceu junto com Brasília, já que chegou com um ano de idade. A família de Júnior foi uma das várias famílias que ajudou a construir a cidade. “Meu pai veio primeiro, e após se tornar funcionário público, foi buscar a gente em Minas”, contou.

Foi nos campos de terra da Vila Planalto que ele começou a se formar como atleta, e o seu primeiro time foi o extinto Defelê, um dos melhores times do DF na época. Como dente de leite, ele conta que a premiação para o destaque do campeonato era uma bicicleta. “Estava eu jogando pelada, e o Airton Nogueira passou, me viu jogando e me convidou para fazer teste no Defelê. Disputava os campeonatos e voltava para casa pra ver na TV os cortes de transmissão que passavam após o jogo. Na época, todos queriam ganhar a bicicleta dente de leite, eu ganhei duas”.

O futebol acabou virando uma coisa séria para Júnior, que se destacou atuando pelos times da AABB e Novacap. Ele lembrou ainda que aos finais de semana, vendia jornal ou engraxava sapato para ganhar um dinheiro e comer pastel na rodoviária.

Em 1975, foi o ano em que o ex-ponta direita estreou como profissional e começou a fazer parte do CEUB, que contava com o goleiro Paulo Victor, que se tornou ídolo do Fluminense. “Com apoio do João Avelino na época, o CEUB tinha um grande time. Nos destacamos na Copinha e fomos promovidos para o profissional, onde disputamos o Brasileirão da Série A.”

Flamengo

Segundo Júnior, foi em seu segundo ano como profissional que se destacou de vez e chamou atenção do Flamengo, depois de enfrentá-lo em duas oportunidades. Além disso, na época ele foi convocado para a Seleção do DF e também foi bem jogando contra a Seleção Brasileira principal. As atuações dele chamaram tanto a atenção que ele foi chamado para vestir a amarelinha no sub-20, sendo o primeiro atleta formado no DF a alcançar tal feito. Na época, Brasília tinha apenas 15 anos de criação.

Júnior Brasília chegou a ser cotado para ir para as Olímpiadas de 1976, mas ele disse ser muito tímido na época. “Fui convocado para Seleção sub-20, mas eu era muito humilde, pequenininho. Ao chegar lá no Rio, muito novo, e ver jogadores como Waldir Peres, Edinho e Júnior, tive um pouco de receio”, relembrou ele, de forma descontraída.

No primeiro jogo contra o Flamengo no Brasília, em 1975, Júnior foi muito bem, e o time carioca se interessou, chegando a abrir negociações, segundo ele. “O dirigente do Flamengo foi na minha casa, mas minha mãe não deixou, tinha medo do Rio de Janeiro e disse que eu era muito novo. Eu chorei muito na época. A oferta fez o CEUB oferecer cesta básica e melhores condições para mim e minha família”.

O técnico Marinho, que era parente do campeão mundial Paulo Cézar Caju, chegou ao CEUB e conseguiu convencer a família de Júnior a deixá-lo ir, com a garantia de que teria uma pessoa para levá-lo na escola e no dentista. Outro fato curioso é que quando chegou no Rio, Júnior dormiu no quarto de PC Caju, que estava viajando com a Seleção Brasileira. “O Marinho ajeitou as coisas para mim aqui no CEUB. O Flamengo veio pela segunda vez e me deu condições melhores. Quando eu cheguei no Rio de Janeiro, eu dormi no quarto do PC Caju, que estava viajando. Quando ele voltou, falou ‘Pode ficar tranquilo, muleque’ “, falou Júnior, dando risada.

No Flamengo, ele chegou se adaptando na categoria de base, onde também disputou a Copinha. A concorrência era grande, mas a oportunidade logo surgiu, quando ele tinha ainda 17 anos. “Estreei no Campeonato Carioca saindo do banco e nós ganhamos. Como titular, o meu primeiro jogo foi contra o Vasco num Maracanã lotado, a perna tremia, porque tinha mais de 100 mil pessoas lá.”

Quando chegou ao clube carioca, primeiramente foi chamado de Júnior II, por conta do Júnior Maestro, que dava carona para o brasiliense chegar nos treinos. Pela confusão nas narrações das rádios na época, passou a ser chamado de Júnior Brasília, apelido que ficou para o resto de sua vida. “Para mim é uma honra carregar o nome de Brasília. É uma responsabilidade muito grande, já que a cidade é um patrimônio histórico da humanidade”.

Foto: Reprodução/Instagram

Seleção Brasileira e Cruzeiro

Em 1977, com muita dedicação, Júnior virou titular do Flamengo. Ainda com idade sub-20, foi convocado para o Mundial na Tunísia. Ele conta que não queria ir, mas foi obrigado pelo Flamengo e pelo técnico Evaristo de Macedo, que comandava a Seleção Brasileira na época. “No primeiro jogo, o jogador titular machucou e eu entrei dando a vida. Fomos eliminados nas semis, mas fui o Bola de Prata do torneio”.

Após perder espaço no Fla, em 1978, Júnior foi envolvido em uma troca com Raul Plasmann, na época do Cruzeiro, e que se tornou ídolo do Flamengo. O ex-ponta direita contou bom humor que teve azar, porque o rubro-negro engatou uma sequência vitoriosa após sua saída e, em Minas, o momento era todo do rival Atlético. “Fui infeliz nessa negociação (risos). Quando saí, o Flamengo ganhou vários títulos, e em MG, o Galo tinha Reinaldo e Éder, estavam ganhando tudo”.

Após dois anos na Raposa, Júnior foi trocado novamente e jogou pelo Mixto. O time mato-grossense passava por problemas financeiros e ele, casado e com dois filhos, ficou preocupado. “Nesse momento, fui iluminado, meu técnico no dente de leite me ligou me chamando para o Brasil de Pelotas, onde fui muito feliz por três anos.”

Em Pelotas, Júnior Brasília foi campeão gaúcho e fez o time ser terceiro colocado no Brasileirão, melhor campanha da história do clube, onde ele se tornou ídolo. “Eu tenho boas memórias de Pelotas e algo sempre me conecta com o time. Recebo até hoje muito carinho do povo Xavante”. O fim da carreira de Júnior foi em 1987, jogando em Rio Verde-GO.

Zico e pós-carreira

Após se aposentar, Júnior estava morando em Belo Horizonte, mas seu pai, que ainda morava em Brasília, faleceu. “Na época, Zico era Secretário Nacional de Esportes, então eu o procurei para ele me ajudar a voltar a Brasília. Ele tava indo pra fora, e disse que a sua Secretária iria resolver, foi aí que ele me arranjou um emprego na Novacap.”

Ao falar de Zico, Júnior Brasília brilha os olhos, demonstrando muita admiração e gratidão por tudo o que Galinho fez por ele. Até relembrou de forma descontraída que ele foi importante financeiramente. “Para falar do Zico, eu gosto de falar dele como cidadão, um homem de bem. Um cara que tenho como exemplo na minha vida, porque me ensinou muito. Eu ia pra casa, enquanto ele ficava treinando. Quando o Zico não jogava, a gente não tinha o bicho.”.

Ao ser perguntado se ganhou dinheiro com futebol, Júnior negou, mas se mostrou satisfeito por tudo que viveu e pelas pessoas que conheceu. “Sempre que me perguntam, eu digo que não ganhei dinheiro, mas fiz amizades.”

Após mais de uma década trabalhando como orientador desportivo, Júnior foi desligado do SESI durante a pandemia. Hoje, aposentado e professor temporário, dedica seu tempo livre para curtir os filhos e netos e assistir os jogos do Fluminense, seu time do coração. Mas, Júnior diz que ainda quer dar sua retribuição para o futebol do DF.

Quero contribuir com o futebol de Brasília de alguma forma, mas ainda não sei como. Ainda tem muito a melhorar, tem capacidade, porque é um celeiro de atletas. Quero ajudar formar cidadãos, porque para mim, isso é o mais importante de tudo, dando educação e resgatando valores.
Júnior Brasília

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