Quem viu, viu. O Capital recebeu o Planaltina E. C. no estádio Bezerrão e a peleja estava de igual para igual, em números e em jogo, até lá pelos trinta e tantos da etapa final. Eis que surge Paulinho, camisa número oito da equipe celeste e rouba a cena no tapete verde do Gama. As léguas eram tantas entre ele e as metas defendidas por Jhonny, golquíper planaltinense, que os defensores companheiros de time precisavam de binóculos militares para enxergar o outro lado.

Ninguém acreditou, e nem acreditaria se contassem, mas Paulinho meteu a esfera na morada do mascote de sua equipe. A Coruja, num susto, alçou altíssimo voo e deixou o Galo Doido, assim como o banco da Celeste, que se abraçava feito vencedores de loteria. Em um fim de semana marcado pela ambulância sendo empurrada por cruzmaltinos e rubro-negros no clássico carioca do Mané Garrincha, a pintura de Paulinho merecia não só ser o ponto alto de nosso fim de semana futebolístico, mas também ser exposta no Museu do Louvre, em Paris, na França.

Um dia depois, o Taguatinga pôs o Legião para dançar. Quando Bolt empurrou a bola mágica contra o próprio patrimônio ainda no princípio da partida, os fugazes meninos do clube laranja sentiram o golpe diante dos experientes atletas de azul. Como em Argentina x Holanda na final da Copa de 78, em cores e em números, o experiente Taguatinga empurrou-lhes mais dois gols e, Kelvin e Tarta, acabaram com a fanfarra do Leão Branco.

Ainda assim, Victor Mariano mostrou seu ímpeto. Johan Cruyff teria orgulho de um jovem capitão comandando um carrossel como fizera com a Laranja Mecânica. Victor corria feito um impala na savana, deixando para trás três ou quatro experimentados jogadores do futebol candango e, quando notava que não podia jogar sozinho, porque seus companheiros não o acompanharam, era melancolicamente derrubado sem poder concluir sua regência. Os experientes do Taguatinga, que conhecem cada pedaço de grama dos campos de Brasília melhor que seus próprios lares, levaram vantagem sobre vantagem: podiam empatar os dois encontros, agora poderão jogar um futebol uruguaio.

O Legião, que se prepara para a Copa São Paulo de 2019, tem garra, talento e futebol de sobra. Será difícil arrancar quatro gols de diferença diante da seleção taguatinguense, mas os comandados por Marquinhos Carioca jogam o futebol que está extinção: trabalham a alegria de jogar bola, como se corressem pelos terrões e chutassem a redonda de capotão, pelo simples e puro prazer de realizarem seu sonho de brincar. Muito provavelmente encontrarão pela frente politicagens e dinheiramas que exigirão deles até a última gota de suor em troca de incontáveis cifras, mas até aqui revivem o verdadeiro sentido do futebol alegre, que é o brasileiro.

Nos palcos da semana que vem, o Diogão e o Abadião, os quatro restantes decidirão os dois felizardos que se juntarão à elite em 2019. E por mais duro que seja, dois terão de tentar novamente o retorno no ano que virá. Mas, se as pelejas da volta, cada qual dentro de sua realidade, seguirem a mesma linha futebolista que fizeram neste fim de semana, o boleiro do Distrito Federal terá muito mais orgulho de bater no peito e dizer que esteve presente em um jogo emocionante e lindo do se ver da nossa cidade.

A esperança é que, no futuro próximo, outros “Paulinhos” e “Vítores” possam reunir multidões para os clubes locais como Vasco e Flamengo reúnem quando vêm dançar o samba na terra do rock. Há, porém, esperança: quem dançou as notas do rock do futebol de Brasília e abaixou o volume para os garotos de Ipanema do domingo puderam relembrar dos tempos em que as canchas brasilienses reuniam multidões a seu próprio favor.

Por Gabriel Felipe

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