Brasiliense x Gama é o maior clássico do DF e um dos maiores do Centro-Oeste. Trata-se de dois clubes conhecidos e respeitados nacionalmente, apesar do insucesso dos últimos anos. O ano inteiro, nós, amantes do futebol local, esperamos por este jogo tal qual esperamos pelo Carnaval, pelas festas de fim de ano… É um grande evento e sempre será. Por que isso não importa para as autoridades locais?
Em novembro do ano passado, a Federação de Futebol (FFDF) sorteou a tabela do Candangão 2020 e definiu que o maior clássico do DF seria realizado no dia 15 de fevereiro. Cerca de um mês depois, a Supercopa do Brasil, entre Flamengo x Athletico Paranaense, foi marcada para o Estádio Nacional Mané Garrincha para o dia 16, invadindo o fim de semana do duelo local. Quando esta notícia veio à tona, muita gente falou: “Ih, já vi tudo. Vão fazer pouco caso com o Brasiliense x Gama”. Dito e feito.
Enfim chegou a semana do jogo mais esperado no Distrito Federal. Polícia Militar (PMDF), Secretaria Executiva de Futebol (vinculada à Secretaria de Esporte do DF), Ministério Público (MPDFT) e outras autoridades tiveram meses — eu repito, meses — para planejar um esquema de segurança para o clássico e tratar com carinho e respeito a partida, o torcedor, o profissional envolvido, o campeonato, enfim… Não é o que tem acontecido.
Menos de 48 horas antes da realização do jogo, o Ministério Público visita o estádio Serejão, palco para o Brasiliense x Gama deste sábado (15). Após vistoria, o procurador Eduardo Sabo atendeu a um pedido da Polícia Militar e determinou que o duelo seja realizado com portões fechados. Em outras palavras, o torcedor do Brasiliense e do Gama que quer acompanhar seus times, que se dane. Fique do lado de fora.
O MPDFT alega ter recebido um documento da Polícia Militar dizendo que “o estádio possui instalações antigas e bastante comprometidas”. Porém, há duas semanas, o Serejão passou por reforma, como mostra a foto abaixo:

A justificativa é que não seria seguro receber as duas torcidas. Imagino eu que esta decisão seja, de fato, bem pensada, já que os órgãos tiveram três meses para tomá-la, mas só o fizeram um dia antes da partida. Tempo para elaborar os tais estudos não faltou.
Porém, algumas questões intrigam. Como bem levantou o blog Drible de Corpo, do site Correio Braziliense, a Polícia Militar (PMDF) esteve em peso no Estádio Nacional Mané Garrincha para cobrir clássicos nacionais por 11 vezes desde 2013. Das 11, nove tiveram o Flamengo em campo, clube detentor da maior torcida de Brasília e do Brasil. As médias de público destes jogos são sempre altas. Mesmo assim, segurança não falta. Por que, então, os torcedores de Brasiliense e Gama não podem ir ao Serejão neste sábado (15) e curtir o clássico em paz? A PMDF não é capaz de garantir a segurança destes cidadãos?

A corporação se justifica afirmando que o clássico terá portões fechados “por conta dos últimos episódios ocorridos nos confrontos entre os dois times, além do monitoramento nas redes sociais”. A declaração gera outra pergunta: em 2019, tivemos três Brasiliense x Gama, e nenhum registrou grandes confusões. O que mudou de lá para cá? “A intenção é promover a paz no futebol e no esporte em geral”, alega a PMDF. Então, podemos entender que a Polícia Militar quer promover a paz pedindo que as pessoas não saiam de casa?
O sentimento que fica em quem acompanha o futebol local é que, no DF, dá-se muita atenção a eventos nacionais e internacionais. O que é feito pelos esportistas daqui não importa tanto. Recentemente, o Mané Garrincha foi transferido à iniciativa privada, e o diretor-presidente do consórcio responsável pelo estádio, Richard Dubois, bradou aos microfones que a arena receberá grandes shows e jogos nacionais e internacionais de grande porte. Atenção ao esporte local, que é bom…
Fato é que o 60º Brasiliense x Gama da história será silencioso. As torcidas comuns e organizadas não poderão entrar na arquibancada do estádio Serejão. O DF Sports+ torce para que não haja confusões nos arredores, embora seja pouco provável, já que ambas as torcidas querem e vão ao local do jogo. Também torcemos para que a Secretaria Executiva de Futebol tenha em mente que o futebol local movimenta instituições, emprega pessoas, alegra famílias. Por que isso não importa às autoridades?
Respostas
A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi contatada pela reportagem e afirmou que o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) é o órgão ideal para tratar do assunto. Em contato com o DF Sports+, o MPDFT limitou-se a confirmar o pedido do veto de torcida e afirmou que publicará “uma nota sobre o assunto”.
“A mudança parte de você”. Enquanto o futebol do DF não se tratar com profissionalismo, não adianta querer cobrar que os de fora enxerguem isso.