No #TBT de hoje, vamos relembrar um pouco da passagem do Gama pela Série A do Brasileirão, quando o clube candango precisou lutar na Justiça por seu direito de continuar na elite

O ano é 1998. A Sociedade Esportiva do Gama disputa contra o Londrina, em um Mané Garrincha abarrotado, a chance de retornar à elite do futebol brasileiro. Dependendo apenas das próprias forças, o Periquito faz sua parte e vence com um tranquilo 3×0. Alegria nas arquibancadas e também no Distrito Federal, que iria novamente ver um de seus clubes entre os gigantes do Brasil. O que o torcedor Gamense não sabia, porém, é que aquele seria o início de um período conturbado para o clube, que acabaria com briga na Justiça e muita luta dentro de campo. 

Na temporada seguinte (1999) a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pensando em proteger seus grandes clubes, adotou um regulamento que, hoje, é bem comum em outras ligas da América do Sul: O coeficiente de rebaixamento. Para simplificar: seriam somados os pontos das duas últimas edições do Brasileirão (98/99), e os quatro times que tivessem a pior média cairiam para a Série B de 2000. Até ai tudo bem, sem polêmica, uma vez que os clubes aceitaram o regulamento, por mais estranho que ele possa ser. O grande problema foi que a decisão veio com o campeonato já em andamento. 

Tapetão

O jogador Sandro Hiroshi, à época atleta do São Paulo Futebol Clube, que havia sido contratado pelo Tricolor depois de ser uma das revelações do campeonato estadual daquele ano, foi inscrito irregularmente pelo clube paulista. O Tocantinópolis, time que revelou Hiroshi, alegava que ainda era o dono do passe do jogador e que por isso ele não poderia ter sido comprado pelo São Paulo, muito menos inscrito no Brasileirão.

O caso veio à tona após a terceira rodada do Campeonato, quando o São Paulo goleou o Botafogo-RJ por 6×1 no Morumbi. Dias depois, alertado sobre o problema com os documentos de Hiroshi, o alvinegro carioca acionou a comissão disciplinar da CBF e pediu os pontos do jogo, seguido por outras seis equipes. O caso foi favorável ao Fogão e alterou a tabela final da competição. O time da estrela solitária ganhou os pontos da partida e com isso se salvou do rebaixamento, condenando, assim, o recém-chegado Gama ao descenso.

E foi ai que o Periquito mostrou sua força: lutou contra tudo e contra todos e mudou a história do campeonato no ano seguinte. 

Justiça comum

Com o Gama já tendo sido prejudicado pela Comissão Disciplinar da CBF, o partido PFL (hoje Democratas) e o Sindicato dos Técnicos do Distrito Federal resolveram ir além acionaram a Justiça comum em nome do Gama, atravessando a CBF, algo considerado inadmissível pelos cartolas. Mas o que o poderia ser feito? Depois de tanto esforço para alcançar a elite, os candangos veriam seu time voltar injustamente à Série B de braços cruzados? A opção foi recorrer à Justiça comum, que não tem relação com futebol, CBF e o Campeonato Brasileiro. Nos tribunais, todas as decisões foram favoráveis ao Gama. A CBF até tentou entrar com alguns recursos, mas perdeu todos e depois desistiu quando foi ameaçada de suspensão pela FIFA. 

Como punição, a mandatária do futebol nacional foi obrigada a incluir o Gama na primeira divisão do ano 2000, mas não poderia organizar o campeonato. Coube assim ao antigo Clube dos 13 tomar as rédeas da competição. Mais uma vez os cartolas tentaram passar o Gama para trás e, com a criação da Copa João Havelange, acabaram excluindo o clube candango do módulo principal do campeonato.

No entanto, o Periquito foi à Justiça e venceu mais uma vez. Aproveitando que teria de incluir o Gama, o clube dos 13 puxou também mais três tradicionais equipes para a “primeira divisão”: Fluminense-RJ, Bahia e América-MG. Dessa forma, o Flu pulou da terceira para a primeira divisão.

Sobrevivendo

Na Copa João Havelange, o Gama não foi bem. Terminou na 22ª colocação, porém permaneceu na elite. Em 2001, com um inflado campeonato de 28 equipes, o Gama terminou em 20º lugar, escapando novamente da zona de descenso. Mas, após brigar por três temporadas na parte de baixo, o rebaixamento foi inevitável em 2002. Penúltimo colocado naquele ano, o Periquito só ficou à frente, curiosamente, do Botafogo-RJ, que fez parte de todo aquele imbróglio anos antes, em 1999. Além deles, Palmeiras e Portuguesa-SP também caíram.

Em 2002, o Gama fez sua última jornada na elite do futebol brasileiro. (Foto: Correio do Povo)

Desde então, o Gama nunca mais voltou à elite do futebol brasileiro. Chegou a cair para a Série C em 2003, voltou para a B no ano seguinte, onde ficou por alguns anos, até a queda final em 2009. Hoje, o maior campeão candango amarga anos e anos longe dos grandes palcos, mesmo tendo tido uma breve passagem pelas competições nacionais em 2016. De qualquer forma, seu fanático e fiel torcedor guarda com carinho a época de Série A do Brasil. Poderia ter sido com um pouco menos de emoção, claro. Mas como diz o rei Roberto Carlos: “O importante é que emoções eu vivi”. 

One thought on “#TBT – O Gama foi Série A contra tudo e contra todos

  • Acho que a história tá mal contada. Realmente se o Botafogo não tivesse ganho no tapetão os pontos da derrota para o São Paulo, o Gama não teria caído e os rebaixados seriam os cariocas. Mas faltou dizer que existe uma regra dentro da FIFA que proíbe entrar na justiça comum. De fato o PFL acionou a justiça comum em favor do Gama, que deu ganhou de causa ao Alviverde. O Gama ainda sofreu retaliações da CBF em 2000 sendo excluído da Copa Centro-Oeste e da Copa do Brasil, porém conseguiu uma liminar para participar da Copa do Brasil. Já a Copa Centro-Oeste por não ter critérios claros de classificação o Gama realmente ficou de fora. A FIFA chegou a suspender o Gama por ter acionado a justiça comum e isso aconteceu nas vésperas da final do Candangão de 2000, tanto que o Bandeirante não compareceu para enfrentar o Gama, já que o Periquito estava suspenso pela FIFA, o que depois foi revertido e marcaram um novo jogo. Impedida pela justiça de realizar o Campeonato Brasileiro, a CBF abriu mão de organizar o Brasileirão naquele ano e o Clube dos 13 e a Rede Globo criaram a Copa João Havelange para que o futebol não ficasse parado. Nessa manobra foram puxados para a elite Fluminense, Bahia, Juventude e América Mineiro, clubes que deveriam disputar a Série B e o Gama foi deixado de fora até do segundo módulo com o Bandeirante sendo convidado para substituir o Gama na “segunda divisão”. Tempo depois o Gama fez um acordo para disputar o módulo principal da JH, desistindo da ação que movia na justiça comum. Em 2001 foram mantidos na Série A os mesmos clubes do Brasileirão de 1999, Goiás e Santa Cruz (campeão e vice da Série B 1999) e sem nenhuma lógica Fluminense, Bahia e América MG, esses três entrando pela janela. O Remo chegou a entrar na justiça em 2001 pra disputar a Série A já que havia conseguido o “acesso” na Copa João Havelange do mesmo jeito que o São Caetano, sendo que o São Caetano foi puxado pra primeira e o Remo não. No final o Remo não conseguiu a vaga. Como a Copa João Havelange não previa rebaixamento nem acesso podemos dizer que o São Caetano chegou a Série A de forma ilegal na mesmo barca de Fluminense, Bahia a América MG, apesar de ter sido vice da Copa JH.

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