Vexame do Feminino pode render punição para o Real Ariquemes na Série D
A última rodada da primeira fase do Campeonato Brasileiro Feminino Série A1 reservou uma surpresa nada agradável para a competição. Já rebaixado para a Série A2, a equipe do Real Ariquemes-RO se recusou a entrar em campo para enfrentar o Santos-SP no estádio Aluizão, em Porto Velho. O motivo alegado pelas atletas foi o atraso de mais de dois meses nos salários, fato que, segundo rumores, também atinge a equipe masculina.
Ficou a frustração para as Sereias da Vila, que planejavam uma vitória por boa diferença de gols a fim de tentar passar o Palmeiras-SP na vice-liderança. Ficou para a CBF o prejuízo financeiro do deslocamento do time paulista a Porto Velho-RO, como hospedagem, alimentação e arbitragem. Com a ausência do time do Real Ariquemes em campo, restou ao árbitro Angleison Vieira aguardar os 30 minutos recomendados pelo regulamento, para depois declarar o W.O. e decretar a vitória santista por ausência de adversário.
A tabela do Brasileirão Série A1 ainda não foi atualizada com o resultado do W.O. (3×0 segundo o RGC), o que leva a crer que a partida irá a julgamento pelo STJD. Tirando o mérito da atitude das atletas (que possuem total razão em lutar pelos seus direitos trabalhistas), a forma como se deu o protesto irá acarretar em sanções ao Real Ariquemes por parte da CBF. Já está certa a perda dos pontos da partida, além do pagamento de multa que pode girar entre R$ 100,00 a R$ 100 mil. Mas, se o STJD entender que ficou caracterizado o abandono de campeonato, o clube poderá ser excluído de competições nacionais pelo prazo de dois anos.
Segundo o artigo 71 do Regulamento Geral de Competições (RGC), “Se uma equipe abandonar, for excluída ou eliminada pela Justiça Desportiva de uma competição, ficará automaticamente suspensa durante 2 (dois) anos de qualquer outra competição coordenada pela CBF, em qualquer categoria ou divisão (grifo nosso)”. Olhando o artigo ao pé da letra, isto significaria a exclusão imediata da equipe profissional do Real Ariquemes-RO na série D, que hoje ocupa a lanterna do grupo A5, mesmo do Brasiliense e Ceilândia. A dupla candanga venceu os dois confrontos contra a equipe do Norte no primeiro turno (Ceilândia 3×0 em casa e Brasiliense 1×0 em Ariquemes). Caso o STJD opte por punir o clube masculino também, o Real Ariquemes seria excluído do segundo turno da Série D e possivelmente seus confrontos finais seriam declarados como W.O. para seus adversários.
Pra quem acha difícil a CBF tomar esta drástica atitude, vale lembrar que e entidade máxima do futebol nacional já fez esse tipo de coisa neste ano de 2023. Denunciado por participar de esquema de manipulação de resultados no Campeonato Amazonense, o Iranduba Masculino foi suspenso por dois anos e meio e rebaixado para a segunda divisão local por decisão unânime do TJD-AM. Por conta do que ocorreu na equipe masculina, a feminina também foi impedida pela CBF de participar do Campeonato Brasileiro Feminino Série A3 deste ano, sendo substituída pelo Tarumã.
Do sucesso à vergonha
Campeão rondoniense de 2019, o Real Ariquemes precisou de quatro anos para ascender à elite do futebol nacional em 2023. Depois de cair na segunda fase do Brasileirão Série A2 de 2020 para o Napoli-SC, em 2021 quase conquistou o acesso, mas acabou eliminado pela ESMAC-PA na terceira fase. Mas no ano seguinte, o Real Ariquemes-RO surpreendeu e conquistou o acesso à primeira divisão eliminando o Fortaleza-CE e garantindo uma vaga entre os quatro clubes classificados à série A1 deste ano.
Nesta temporada, o clube do norte sonhava em se manter na primeira divisão e brigar por classificação na temporada seguinte. Mas a campanha do time foi abaixo da esperada. Logo na estreia, sofreu uma goleada por 9×0 do Palmeiras-SP, clube campeão da Libertadores Feminina do ano passado. Daí em diante, foram oito derrotas consecutivas, até o time conquistar a sua primeira vitória já na nona rodada, (2×1 em casa contra o Avaí Kindermann-SC). O time ensaiou uma reação na competição ao bater o Bahia-BA fora de casa e o Ceará-CE em seus domínios. Mas a derrota para o Real Brasília no Defelê e para o Atlético-MG em BH, ambas por 3×0, decretou o rebaixamento do clube com uma rodada de antecedência.
A decisão de não entrar em campo na última rodada diante do Santos-SP foi premeditada. Todo o elenco se apresentou ao local do jogo (estádio Aluizão em Porto Velho-RO) e a documentação foi entregue ao árbitro. Às 15 horas (fuso horário de Brasília), o Santos-SP entrou em campo, enquanto o Real Ariquemes permaneceu no vestiário, se recusando a jogar. Segundo a súmula, a delegada da partida, acompanhada da Coordenadora do time do Santos Aline Xavier, foi ao vestiário do time visitante, a fim de estimulá-las a mudar de ideia e entrar em campo.
Às 14:12, o Real Ariquemes saiu dos vestiários trajando camisetas pretas e, de mãos dadas, fizeram um protesto na pista de corrida que margeia o gramado do estádio. O público que estava nas arquibancadas apoiou o “movimento” com aplausos e palavras de apoio. O árbitro aguardou 30 minutos, e decretou o W.O. à favor do Santos-SP, que sem jogar, aproveitou a oportunidade para treinar suas atletas.
Representando as atletas, a zagueira Gabi Lira expôs a situação da equipe feminina em entrevista ao portal GE. Ela explicou que o protesto vai além da falta de pagamento, e que a luta é por direitos da categoria:
Na verdade a gente está aí com dois meses de salários em atraso, e a nossa briga, a gente precisa frisar isso, é pela modalidade. A gente não entrou em campo por não ter o salário, mas pra que a gente possa deixar, de alguma maneira, um pontinho positivo para que as novas gerações possam saber que o futebol feminino tem direitos. E que não se pode mais brincar com isso. Então a nossa luta, acima de tudo, é pela modalidade”
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