Findou-se nesta última quinta-feira (5) o prazo dado pela Federação de Futebol do DF para que a Diretoria do Clube de Regatas Guará se manifestasse acerca da sua ausência de competições por três anos seguidos. Para tristeza dos amantes do futebol candango, ninguém do clube se manifestou e com isso, o primeiro clube profissional de Brasília teve decretado o seu fim de forma melancólica, encerrando uma longa história de conquistas e superação.

Fundado em 9 de janeiro de 1957, o Clube de Regatas Guará foi fundado por um grupo de servidores do extinto Departamento de Topografia Urbana, entre eles Oswaldo Cruz Vieira, o “Oswaldão”. Corintiano de carteirinha, escolheu as cores e o escudo de sua equipe de coração para dar ao recém formado time que começou a disputar campeonatos profissionais a partir de 1960.

O auge do clube ocorreu em 1996. Depois de bater na trave nos anos de 81, 82, 83, 88 e 91, o Guará conquistou seu primeiro e único título candango depois de duas vitórias diante do arquirrival Gama. Com o craque Eder Aleixo em campo, o time comandado por Déo de Carvalho venceu o jogo de ida em pleno Bezerrão por 1×0 e sacramentou a conquista do título no jogo de volta disputado no CAVE por 3×1.

Guará foi campeão em cimado Gama em 1996.

O Guará inclusive foi o pivô de uma grande estrela do Distrito Federal. O zagueiro Lúcio era titular da zaga do Lobo na partida válida pela Copa do Brasil diante do Internacional em 1997. Na ocasião, o Guará fora eliminado com uma humilhante goleada por 7×0, mesmo assim o técnico Celso Roth gostou do zagueiro e o levou para o Beira-Rio. Começaria ali a carreira vitoriosa do jogador que rodou o mundo e conquistou o ápice com a conquista do Penta na Seleção Brasileira.

Porém o tempo passou e o clube entrou em declínio a partir de 2006. Naquela ocasião, o Lobo foi rebaixado à segunda divisão e tentou por dois anos seguidos retornar à elite, mas sem sucesso. Depois de se licenciar em 2009 e 2010, o time voltou à ativa entre 2011 e 2016 mas sem se firmar.

Desmanche

Com o passar do tempo, o “Lobo da Colina” foi sendo deixado de lado pelos seus dirigentes e culminou com o seu fim. Apesar de pessoas do futebol se aproximarem para tocar o clube, sua diretoria insistiu em se manter no poder mesmo sem atividades. Ajudaram também no fim do Guará a sua enorme dívida trabalhista, fiscal e judicial que somados se aproximam dos R$ 4 milhões. Promessas de ajuda por parte de políticos até que surgiram, mas nada de concreto.

Márcio Antônio da Silva, último representante do Guará se defende. Foto: Jornal do Guará.

Sobrou só pra mim

Segundo matéria divulgada no Jornal do Guará, o atual Presidente do Conselho Deliberativo e único representante eleito pelo clube Márcio Antônio da Silva – Marcinho – se defende das críticas e afirma que entrega o clube para qualquer interessado em resolver as pendências: “O Estatuto diz que a gestão pode ser prorrogada por tempo indeterminado até a convocação de novas eleições. Quem vai querer participar da diretoria de um clube com um buraco desse tamanho? Se aparecer quem queira, providencio a eleição imediatamente e entrego o clube” afirmou ele que descarta voltar a dirigir o clube: “De forma alguma!  Não quero mais participar de gestão nenhuma. Só eu que estou pagando o pato e ainda fico recebendo críticas de quem não aparece para ajudar” .

O mandatário disse ainda que nenhum dos interessados em retomar o clube se responsabilizou pelo passivo. Quem assumiu o compromisso de zerar as dívidas do clube foi o ex-presidente da Federação de Futebol do DF, Fábio Simão, mas sem êxito: “Porque queriam o clube, mas não responsabilizariam pelas dívidas, pelo ônus. Eles só queriam a parte boa, tocar o futebol, mas sem assumir a situação do clube, que continuaria comigo. O outro grupo queria continuar, mas apenas com a parte boa. Assim, não dá. Fábio Simão foi o único que se comprometeu, por escrito, a se responsabilizar por qualquer compromisso financeiro que viesse a fazer sem deixar dívidas para clube e ainda me ajudar a resolver as pendências existentes. Mas ele não conseguiu os apoios que pretendia e o contrato venceu sem que o compromisso fosse cumprido” explicou.

Wander Abdalla foi presidente do Guará de 1988 a 1981. Foto: Almanaque do Futebol Brasiliense

Um dos presidentes mais icônicos do CR Guará, Wander Abdalla de 82 anos falou ao DF Sports+ que a desfiliação do Lobo da Colina não o surpreendeu. Para ele, o time paga o preço pelas más administrações: “De 1988 a 1991 fiz de tudo para fazer do Guará um grande time. Tínhamos no elenco grandes jogadores como Djalma Santos, Ataliba, Mauro…queríamos valorizar a nossa cidade e procurar a divulgação a nível nacional. Nunca tive interesse pessoal, meu interesse era fazer futebol de forma profissional. Infelizmente eu acho que o Guará não tem mais condição de ser filiado, não consegue cumprir o mínimo necessário para ser um clube profissional. O Guará tem tempo que vem decaindo, problemas financeiros… acho normal, tem passado triste, não cumpria condições mínimas. Tem acabar com esse negócio, os clubes têm que contratar e pagar em dia os seus jogadores, mas infelizmente na maioria dos anos que ele existiu isso não acontecia” confessa.

Wander Abdalla que foi jogador profissional, tricampeão pelo Taguatinga Esporte Clube, trabalhou em vários clubes e criticou o uso político do clube: “A comunidade sempre apoiou e prestigiou, mas as administrações, muitas pessoas usaram o clube em beneficio próprio. Muitas pessoas se beneficiaram para tirar proveito, o clube tinha patrimônio, acabaram com ele e ninguém sabe onde onde foi parar” disse.

Abdalla ainda disse que sonhava em criar um novo time para representar a cidade do Guará, mas acredita que para que isso ocorra é preciso um somatório de forças: “Eu tinha interesse de conseguiu formar um time de futebol no Guará para representar a cidade. O Guará tem uma população de poder aquisitivo alto, mas isso para que isso ocorra, preciso do apoio de várias pessoas idealistas. Eu sou só um deles” dispara.

Desfiliado, o clube fica impedido de participar de assembléias, competições oficiais e de poder registrar jogadores na CBF. O time ainda pode participar de competições amadoras, sem a chancela da Federação. Para sacramentar a exclusão do Lobo, basta apenas a Federação colocar o assunto em pauta em uma Assembleia de Clubes e caso aprovado, está feito. Triste fim de um time respeitado no Distrito Federal e de seus torcedores.

One thought on “Campeão de 1996, Guará é desfiliado e encerra uma história de 62 anos

  • Que pena. Estou triste. Foi desfiliado parte da minha infância e parte da minha adolescência. Assisti vários jogos, grandes jogos, vi grandes atletas passarem pelo Guará e pelo Estádio do CAVE. Minha profissão de Técnico de Futebol foi tomada no Guará. Estou realmente triste. Como deixaram isso acontecer. Gostaria de puder fazer algo para mudar isso, mas infelizmente tudo depende de dinheiro, embora nem tudo seja o dinheiro. Tristeza. Luto.

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