Por Pedro Breganholi
Foto: Pedro Breganholi
Antes de começarmos a responder a pergunta do título desta matéria, que tal fazermos um pequeno exercício? Pense em uma grande empresa. Qualquer uma. Para chegar ao nível de grande, toda empresa um dia foi pequena. Teve um começo difícil, mas através de boa gestão e de pessoas competentes, interessadas em seu crescimento, alcançou seu objeto.
Se pensarmos no inverso, uma grande empresa que faliu, fica ainda mais fácil de percebermos o que aconteceu com o futebol candango. Assim como uma má gestão destrói qualquer empresa, no futebol também não é diferente. O Candangão nunca foi, de fato, um dos principais estaduais do país. Mesmo entre os anos 90 e 2000, quando tivemos grandes equipes e times na primeira divisão, nosso campeonato não conseguiu chegar na prateleira seleta dos grandes torneios nacionais. Mesmo assim, pergunte a qualquer um que viveu aquela época, e obterá a mesma resposta: Foi uma época de ouro.
Num passado mais distante, times como CEUB e Taguatinga levaram a bandeira do DF pelo Brasil afora. Mais recentemente, o surgimento do Brasiliense fez com que o Gama, que vinha dominando o cenário local, ganhasse um rival à altura e despertasse e os dois travaram grandes batalhas de 2001 pra cá. Isso fez com que outras pessoas acordassem, e passassem a olhar para o nosso futebol com seriedade. Brazlandia, Bandeirante, Sobradinho, Ceilandia e outros, começaram a impor dificuldades aos dois soberanos. Tanto que, o tradicional Botafogo carioca abriu uma filial no DF, com o intuito de emprestar e revelar jogadores. O Legião nasceu com um projeto ousado, lotava o velho Mané Garrincha e dava até cerveja de graça. Os times do entorno foram incorporados ao campeonato e com eles veio a força do interior. O palco estava armado. O Candangão finalmente se tornaria GRANDE! Tudo não passou de mera ilusão.
Por motivos que não sabemos ou talvez não tenhamos cem por cento de certeza para explicar, os times mais fortes e tradicionais começaram a “morrer”. Quase todos, ou todos, contraíram dívidas, trocaram de dono como quem troca de roupa, faliram e foram reabertos com outros CNPJ’s, e por fim, acabaram rebaixados. Com o rebaixamento do Brasiliense para a terceira divisão em 2010, após anos batendo na trave e sendo mal administrado, o futebol de Brasília entraria de vez em estado de coma. O desespero foi tão grande que até o próprio Gama, time de massa, se endividou e caiu pelas tabelas
Quando o jacaré foi rebaixado, seus rivais vibraram, sem imaginar o que estava por vir. O interesse das pessoas por nosso futebol diminuiu muito e levou rádios e jornais a desistirem de cobrir o futebol local. Os que sobreviveram lutaram muito, mas o fato é que hoje, dá pra contar nos dedos quem pode se dedicar apenas ao nosso amado esporte. Como se já não bastasse a má administração dos clubes, a própria federação de futebol começou a deixar a desejar. As dívidas fiscais hoje, passam da casa do milhão, graças às administrações anteriores. A administração atual é acusada de sonegar e saquear os próprios cofres. Presidentes dos clubes querem destituir Erivaldo Alves, assim como foi feito com seus antecessores.
A resposta é simples: Imagine que você é dono de uma grande empresa e tem dinheiro para investir no esporte. Colocaria sua marca ligada a um clube que está afundado em dívidas, é conhecido por não pagar atletas e só joga dois meses por ano? Daria seu dinheiro na mão de pessoas que, comprovadamente, não sabem gerir uma empresa, ou seja, clubes de futebol?
É claro que, não estamos aqui para generalizar. Existem pessoas da imprensa e dirigentes que lutam diariamente pelo futebol e que querem fazer o bem para o nosso campeonato. Mas esses, infelizmente, são atrapalhados por alguns que não querem deixar o futebol crescer. Prova disso? Com pouco menos de 24h para o início da segunda divisão 2017, um clube que havia se retirado da competição, voltou atrás e entrou com uma liminar para ser incluído no campeonato. Por MUITO pouco, a segundinha não teve seu início comprometido. Confusão sanada, no primeiro jogo da competição, entre Bolamense e CFZ, o mandante do jogo não possuía as chaves dos portões, não contratou o serviço médico adequado e não providenciou o policiamento. Resultado? Partida adiada.
Com todos esses acontecimentos, será que o torcedor vai sair de casa e adotar um time local, sabendo que o mesmo não está comprometido com sua cidade e muito menos com a competição que disputa? Será que o governo, as grandes rádios e os canais de televisão vão tirar dinheiro de seus bolsos para investir em um produto falido por seus próprios donos? Como levar a sério equipes que sequer pagam suas dívidas ou os salários dos jogadores? Voltando ao inicio, quando falamos das empresas, a solução para os problemas do nosso futebol fica clara: Enquanto os “donos da empresa” não tratarem seu negócio com devida seriedade, respeito e dedicação, nós vamos continuar estagnados. A cada ano tendo campeonatos piores, estádios mais vazios e menos, muito menos prestígio. Um planejamento a longo prazo para o campeonato e para os clubes já se faz necessário há muito tempo. Mas até agora, não existe nenhuma movimentação para que as coisas aconteçam. Porém, antes de qualquer coisa, um fator é fundamental e imprescindível: Que todos tratem nosso futebol com respeito e seriedade.