Por Bárbara Fontinele
Agitada capital paulista, sexta-feira à noite, semana do GP no Brasil. A vista da mesa é uma janela esvidraçada que dá vista para a Rua Haddock Lobo, 1573, Jardins-SP. O jovem Pedro Piquet caminhou em direção a mim e, após cumprimentar-me com um largo sorriso, inerente à sua simpatia, sentou-se à mesa. Antes que eu começasse meu trabalho, ele inverte os papéis e experimenta quebrar o gelo: “O que você vai me perguntar?” Foi como o piloto iniciou a agradável conversa, no restaurante Nobu.
Aos 21 anos, Piquet tornou-se referência quando se fala em continuação dos grandes nomes do automobilismo brasileiro. Em quatro anos se preparando para alcançar a Fórmula 2, o final de 2019 resumiu-se na preparação, em Abu Dhabi, para o teste que definiria sua ida para o torneio. O resultado? Largada dada com sucesso! A Charouz já anunciou o lugar de Pedro na temporada 2020 como piloto da equipe.
Além de transitar entre sua casa em Mônaco, onde mora sozinho desde os 17 anos, e a residência da família, no Brasil, os treinos não ficam em segundo plano. Atletas exigentes como Pedro Piquet sabem a importância da disciplina, do foco, e da dedicação aos treinos, que, no seu caso, vão desde a preparação física até a direção do veículo.
Os primeiros dois anos em que Pedro competiu na Fórmula 3, no Brasil, foram bem mais fáceis do que as duas temporadas seguintes fora do continente. “Meu primeiro ano na Europa foi muito difícil, era um campeonato bem mais forte, o nível europeu é outro, e eu tive minhas dificuldades”.
Em 2016, ele começou a se preparar psicologicamente com a metodologia coaching, cujo tratamento inclui desde sessões presenciais até meditações online. Piquet foi guiado pelo profissional Giuliano Milan, que também treina grandes atletas brasileiros como o Bruninho do Volêi. “Lógico, experiência é fundamental, a gente melhora na pilotagem, mas treinar a cabeça ajuda muito mais”, assevera Piquet.
Controle da mente
“Você está ansioso para a F2?”, pergunto. “Eu não posso ficar!”, responde Piquet, com assertividade. O piloto tem plena consciência de que não basta apenas estar preparado fisicamente. Para treinar a mente, ele também trabalha para não criar expectativas: “A ansiedade te prejudica. Se você pensar em só ganhar, você acaba não dando o seu melhor porque vai estar focado no resultado. O pódio nada mais é do que o resultado do foco durante o processo.” Nas palavras do piloto, conduzir a mente a não criar expectativas é essencial: “Quando as criamos, a decepção é ainda maior”.
A experiência de estar correndo há tantos anos em alto nível ensinou a Pedro que o nervosismo pode interferir na sua performance. “Eu ficava pensando meses antes das corridas, e isso não me fazia bem. Hoje, a minha cabeça é treinada para que se algo de ruim acontecer, eu não fique para baixo”. Foi em 2016 que o acompanhamento com o coaching começou pela sugestão da mãe, Vivianne Piquet. A princípio, ele hesitou, mas acabou se rendendo. “No início achei besteira. Hoje, vejo com extrema importância”.
Pedro não se acha perfeito. Longe disso: a sua constante procura por mecanismos para aperfeiçoar sua mente é que guia o caminho de quem ainda tem um futuro brilhante pela frente. “Era a última volta da corrida, e eu estava disputando o pódio, quando um outro piloto bateu no meu carro, mas isso não me deixou abalado. As pessoas viram isso com estranheza, mas isso já é resultado do meu treinamento”, concluiu.

Altura x Cockpit
“Se você se considera alto pra pilotar, qual seria a altura ideal?” “O mais baixo possível.” Nas categorias de fórmula, o cockpit (cabine onde ficam os pilotos) é muito apertado, e um piloto mais alto sofre para se acomodar e guiar o carro. Pedro Piquet mede 1,78m, e nas categorias em que compete, na maioria das vezes, fica entre os pilotos mais altos.
Cuidados
A alimentação adequada não deixou de ser prioridade mesmo entre outras tantas preocupações que o piloto tem. Afinal de contas, seu peso vai somar com o do carro na hora da corrida, e a leveza pode ajudar a aumentar a performance em termos de velocidade. “Você também conta com a ajuda de nutricionista?”. “Eu aprendi a comer. A quantidade é o segredo. É preciso maneirar, e nada de exagerar”, diz Pedro.
No automobilismo, a disputa pelos milésimos de segundos depende de um complexo de fatores. A soma do peso do veículo ao peso do piloto é, sem dúvida, um dos fatores a influenciar no resultado. Os carros das fórmulas 2 e 3, por exemplo, não possuem direção hidráulica e são muito pesados para guiar. Por isso, a importância dos treinamentos físicos fora da pista.
Para isso, Piquet conta com o trabalho do personal Alan Guimarães. A especialidade de um profissional que saiba orientar o piloto na execução de métodos que irão trabalhar o fortalecimento de áreas específicas de quem pilota um carro é essencial. Nos treinos diários, estão incluídos exercícios que trabalham o músculo do pescoço, o reflexo e a mobilidade dos membros superiores para guiar um volante pesado.
Adrenalina
“Frio na barriga, ainda existe?”. “Claro! E sentir o coração acelerar também é inevitável. Acima de tudo, é necessário estar atento, tudo pode acontecer, tanto para mim, quanto para os outros que estão na pista.”
“Então como controlar a mente?”. “O que faz a diferença é prestar atenção no que está se passando, ou seja, foco no momento presente e não no resultado”. Nesse momento, Piquet aplica o que aprendeu com seu coach: “É preciso fazer exercícios para aprender a se manter calmo e não deixar a ansiedade tomar conta, e meditação é uma delas.”
Pedro Piquet explica que regularidade é importante. Na visão do piloto, a mente precisa entender que é necessário estar em constante evolução. “A mente pode ser seu maior aliado na pista, mas também pode ser seu maior inimigo.”
Trabalho em equipe
“Você é o estilo de piloto que obedece às orientações da equipe ou prefere seguir sua intuição?”. “Depende. Às vezes tomo uma decisão porque sou eu que estou pilotando o carro, afinal. Porém, na maioria das vezes, procuro seguir a orientação do meu time, ponderando as suas razões.”
“Você também pode dar pitaco sobre o carro que pilota?”. “É importante que o piloto dê um feedback para a equipe sobre o que pode ser aperfeiçoado no carro.”
Entre mexidas no canudo e barulho dos gelos no copo de vidro, a entrevista com Pedro Piquet encerra-se junto com o drink que bebia. “Gostei, pois foi a primeira jornalista que me não me fez uma pergunta que eu particularmente detesto, mas que sempre me fazem”, confessa. A pergunta? O DF Sports+ talvez te conte em uma próxima matéria em 2020, ano em que Pedro Piquet estreará e mostrará toda sua potência na Fórmula 2.