Em meados da década de 80, Brasília possuía um fortíssimo cenário de rali. As competições da modalidade automobilística contavam com um bom público apaixonado, que estava sempre acompanhando de perto o desenrolar das corridas. A mídia exercia um forte apoio sobre os campeonatos, retratando nos jornais, detalhadamente, como as equipes e os pilotos estavam se portando e preparando para a conquista dos títulos.

Com tanta força e prática, os patrocinadores, consequentemente, também investiam consideravelmente bem nos competidores e seus carros e equipes, fazendo com que a modalidade se tornasse muito popular na capital do Brasil.

Durante a década, época em que José Pereira e Luiz Marinho dominavam o cenário nacional da modalidade, foi criado, no ano de 1988, o Buriti Rally Clube, uma organização sem fins lucrativos que surgiu para disputar competições de rali de regularidade em nível amador na capital federal e tinha como objetivo, até os dias de hoje, manter a essência e a prática deste esporte sempre em evidência.

Depois de ter vivido seu auge nos anos 80 e 90, o Buriti Rally Clube passou por vários altos e baixos durante os anos 2000 até meados de 2010. O atual presidente do clube, Armando Villas-Boas, que está em seu segundo mandato na equipe (presidiu também em 2012/13), contou à equipe do DF Sports que hoje o clube existe graças à paixão e persistência dos próprios competidores. “Somos uma associação sem fins lucrativos, organizada pelos próprios desportistas, para que mantenhamos o esporte vivo. Essa é a concepção do Buriti Rally Clube desde seu início”, explicou.

Dentre as dificuldades e penúrias sofridas pelos amantes do rali em Brasília, pode-se citar, ao longo do tempo, a queda brusca do número de fãs que compunham o público do esporte, falta de apoio, patrocínio e investimento de grandes empresas e o abandono da mídia em relação à cobertura jornalística sobre a prática da modalidade. Essa realidade tornou-se, inevitavelmente, um ciclo vicioso, onde os problemas sofridos por todo o cenário do esporte na cidade e acabam afetando o crescimento da categoria, que por consequência, finda por não apresentar evolução ou avanço algum.

Atualmente, vivendo uma fase mais estável e seguindo a concepção citada por Villas-Boas, o clube tenta trazer novamente o conceito do rali de regularidade ao cotidiano do cidadão brasiliense apaixonado pelo esporte. No passado, o BRC organizava provas e competições oficiais. Contudo, depois da desvalorização da modalidade ao longo dos anos, o clube tem organizado apenas competições de treinamento. Estes treinos assemelham-se ao formato de uma competição profissional, com a diferença de que não há campeonatos, mas provas isoladas.

De qualquer forma, o presidente garante que o nível técnico das disputas não deixa a desejar. “Estamos investindo muito na parte técnica (dos eventos). Estamos há mais de um mês trabalhando no levantamento da prova (Rally dos Namorados que acontecerá em junho), para desenhar uma planilha perfeita, com indicações de direções (chamadas de tulipas) perfeitas, e uma medição de quilometragem também perfeita, com uma precisão até mesmo de metros. A qualidade dessa precisão traz qualidade ao evento”, esclarece.

Além disso, graças às parcerias do clube, o nível técnico da prova esteve sempre em constante avanço. Villas-Boas cita a oficina Distrito 4×4, que é a responsável pelo resgate das provas, o Pier 21, a Companhia Atlética de Brasília dentre vários outros parceiros que colaboram com o BRC na organização de eventos e competições.

Nádia Marques, diretora jurídica do BRC, reforça o objetivo do clube. “Queremos que o esporte se popularize e, quem sabe, assim os praticantes profissionais passem a receber apoio/patrocínio em suas competições. A maior dificuldade dos competidores profissionais, como na maioria dos esportes no Brasil, é a falta de patrocínio”, reitera.

Uma das maneiras encontradas pelo clube para popularizar e difundir a modalidade, é através do estímulo de novos competidores amadores, que disputem provas utilizando carros de passeio. O BRC proporciona a oportunidade de se praticar rali de regularidade, com carros de passeio ou 4×4, não sendo necessário, na categoria iniciante, qualquer preparo específico do carro ou equipamento específico.

Uma das ações do clube é a adesivagem dos carros, que será realizada dia 29/05. Foto: Facebook/Buriti Rally Clube

Nádia explica que não há danos ao automóvel do competidor que deseja se inscrever e competir alguma prova. “Não há danos desde que respeitados os limites de cada carro. Muitos competidores vão para correr em altas velocidades, por causa da imagem do Paris Dakar ou Rali dos Sertões (competições de rali de velocidade). Mas no rali de regularidade, o essencial é a precisão. Por isso, se a pessoa pegar seu carro e dirigir sem responsabilidade em uma estrada de terra, sem respeitar o limite do seu carro, há possibilidade de danos. Não pela prova em si, mas pela forma como o competidor escolheu conduzir o carro”, explica.

Antes de cada treino, o clube realiza um workshop de navegação para os pilotos novatos, que aprendem a navegar e recebem dicas de pilotagem. Cada treinamento tem tido em média de 20 a 25 carros, mas o objetivo da equipe é chegar a 50. O número de competidores passou a crescer de alguns anos para cá, a vontade do clube é que novos competidores surjam através dos eventos que promovem.

Além de diretora jurídica, Nádia é também responsável pelas mídias sociais da equipe. E, para Armando, o trabalho feito pela diretoria desde 2017 começa a mostrar seus resultados. “Esse trabalho está sendo feito pela Nádia já há algum tempo e, na minha opinião, ele tem sido importante, pois nós estamos nos mantendo vivos na memória do povo”, pondera o presidente.

Armando explica que a palavra “Rally”, do inglês, e “Rallye”, do francês, significam “reunião de pessoas” e para ele, esta definição está diretamente ligada ao significado do esporte para seus entusiastas e desportistas. “As partes sociais, de amizade e da responsabilidade social, são bastante presentes em nosso esporte. Até mesmo pela origem do nome que mostra que nosso esporte é comprometido com essa questão social. Esse aspecto de amizades em nosso esporte é muito forte, muito grande. Eu diria que nosso esporte se diferencia por isso. A nossa competitividade é contra nós mesmos, pois nós tentamos vencer os nossos próprios limites”.

É seguindo a linha de raciocínio de seu presidente que o clube aos poucos se reconstrói e cumpre seu objetivo de repopularizar a modalidade em Brasília e no Brasil. O próximo treino que o Buriti Rally Clube promoverá, será o Rally dos Namorados, que terá o seguinte cronograma:

29/05 – Adesivagem dos carros no Distrito 4×4, a partir das 18 horas;

05/06 – workshop de navegação, às 20 horas, na Companhia Atlética do Pier 21;

08/06 – entrega de planilhas (percurso da prova), às 19 horas, na Leitura do Pier 21;

09/06 – largada no Pier 21.

Os eventos e competições da equipe podem ser acompanhados pelas redes sociais do Buriti Rally Clube. @buritirallybsb, no Facebook e Instagram e no site oficial do clube: www.buritirally.com.br

Por Gabriel Felipe

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