O Campeonato Candango deste ano teve como grande surpresa o terceiro título local do Sobradinho, equipe alvinegra que precisou esperar mais de trinta anos para comemorar uma nova conquista. E no banco de reservas estava Vitor Santana, ex-atacante de Gama, Brazsat, Brasiliense, além de tantos outros clubes Brasil afora. Foi a primeira experiência do jovem treinador candango de apenas 35 anos à frente da equipe de profissionais do Leão da Serra. Uma aposta bancada pelo ex-presidente Túlio Lustosa e acolhida pelo atual dirigente alvinegro, Washington Borges.
Esta realidade tão frequente do futebol de Brasília promete mudar num futuro bem próximo. É que a CBF – Confederação Brasileira de Futebol – pretende passar a exigir uma espécie de “Carteira de Habilitação” para os treinadores profissionais. E sem esta formação, os profissionais ficariam impossibilitados de comandar qualquer equipe de futebol amadora ou profissional. A carteira em questão é a Licença de Especialização expedida unicamente pela entidade máxima da modalidade no país.
Tudo começou em 2015, quando a CBF começou a oferecer cursos de especialização para Treinadores de Futebol. Eles são divididos em quatro categorias: Categoria “C” (para Escolinhas de Futebol), “B” (para Categorias Amadoras), “A” e “Pro” para Categorias Profissionais. Os cursos são sequenciais – o Treinador precisa passar pela Categoria “C” (para chegar à “B”) e assim por diante. Ao todo, o investimento total para quem passar por todos os degraus do curso supera a marca de R$ 40 mil. Os valores exatos são R$ 5.267,50 pelo nível C, R$ 7.250,80 pelo B, R$ 9.926,00 pelo A e mais R$ 18 mil no estágio profissional, o último (dados de 2017).
Se a regra valesse para hoje, nenhum treinador de Brasília teria condições de comandar uma equipe de futebol profissional no Distrito Federal. Atualmente apenas quatro treinadores de Brasília possuem licença “A” e nenhum deles atua no estado. São eles, Marcos Soares (Técnico do Sub-17 do Corinthians-SP), Gabriel Magalhães (Coordenador do Centro de Análise de Desempenho Inteligência da Informação – CADI do Corinthians-SP), Glauber Ramos (Treinador do Sub-18 do Goiás-GO) e Rafael Toledo (Ex-técnico do Brasiliense e atualmente fazendo estágio com Roger Machado no Palmeiras-SP).
Pensando neste quadro, já tem uma leva de novos treinadores investindo na carreira para se adequar à nova resolução da CBF. Um deles é Rodrigo Campos (27 anos), ex-técnico da equipe sub-20 do Ceilandense. O profissional formado em Educação Física pela Faculdade Albert Einstein falou à reportagem do DF Sports o que o levou a escolher a profissão. “Desde mais novo me interessei pelo futebol e tive a vontade da maioria das crianças, que é ser jogador. Como não foi possível, comecei o planejamento para ser treinador. Cursei Educação Física e comecei a trabalhar em escolas de futebol em Brasília”, contou.
“Em 2014 migrei do futebol educacional para o futebol competitivo. A seleção da Etiópia esteve em Brasília realizando um período preparatório para as competições africanas, então fiquei um mês acompanhando o treinador português Mariano Barreto. No mesmo ano estagiei no Brasiliense com o treinador Marcos Soares. Foram momentos fundamentais para o meu crescimento como treinador. Em 2015 recebi um convite para trabalhar como treinador na Arábia Saudita na categoria de base do clube Al-Kholoud da segunda divisão. No meu retorno ao Brasil, em 2016, iniciei o processo de formação para treinadores de futebol da CBF. Cursei a Licença C, no ano seguinte a Licença B, que é a minha licença atualmente. Esse ano comecei a licença A, que será concluída em 2019.” revelou Rodrigo.
Rodrigo Campos apóia a iniciativa da CBF. Para ele, o Brasil, que ficou eternizado pelo 7 × 1 na Copa do Mundo de 2014, precisa evoluir. E a evolução passa pela qualificação dos treinadores. “No Brasil a maioria dos treinadores cursou educação física ou vivenciou o futebol de forma prática (no caso dos ex-atletas). Acredito ser pouco para que tenhamos um futebol em alto nível. O curso é justamente para isso: capacitar e formar os profissionais que atuam no futebol brasileiro. Na licença A, por exemplo, temos disciplinas como: gestão de equipes, treinador e imprensa, psicologia do esporte, análise e montagem do elenco profissional. Na disciplina de treinamento de campo, foram abordados temas que nos direcionam a construir um ambiente de treino que padronize uma forma de jogar da nossa equipe. Atualmente o futebol nos exige muito mais do que treinar separadamente aspectos técnicos, físicos e táticos, justamente por se manifestarem de forma conjunta no jogo. Por isso, no “futebol moderno” os treinos são planejados de acordo com as concepções de jogo (idéias/estratégias) do treinador. Essa operacionalização dos princípios ocorre em todos os níveis do jogo, individual, grupal, setorial, intersetorial e coletivo”.
A medida vai pegar em cheio até mesmo os treinadores mais vencedores do futebol brasileiro. O atual Campeão da Copa Libertadores da América e Gaúcho, Renato Portaluppi, será convidado a fazer os cursos de reciclagem. Ele que certa vez até ironizou os treinadores que se capacitaram. “Para os treinadores com mais de 60 anos foram distribuídas licenças honorárias (Antônio Lopes, Carlos Alberto Parreira, Levir Culpi, entre outros). A Licença é destinada aos treinadores que possuem mais de 60 anos e, segundo critérios da Conmebol, acumularam mais de 50 pontos durante o ofício. Conquistas com Seleções Principais e de Base, Campeonatos Nacionais e Internacionais com clubes também fazem parte da somatória dos pontos. Por outro lado, todo treinador com menos de 60 anos terá que realizar o curso, assim como Fábio Carille, Roger Machado, Jair Ventura, Cristóvão Borges e Ricardo Gomes, que estão nesse processo de atualização do conhecimento”, explicou.
Rodrigo Campos acredita que a medida irá ajudar os treinadores a buscarem mercado não só local, mas em outros países. Os clubes europeus ligados à UEFA só admitem profissionais técnicos que possuam a licença UEFA Pro, o que “fechou” as portas para profissionais brasileiros. “O primeiro passo foi entendermos a importância da construção e atualização do conhecimento, que atualmente já é bem aceito pela maioria dos treinadores. Após a regulamentação da licença de treinador de futebol no Brasil, o próximo passo será buscar a convalidação das licenças na Europa. O único país que oferece atualmente um curso de formação para treinadores válido na Europa é a Argentina, que realiza o curso há mais de 50 anos. Acredito que em breve o nosso curso também terá o mesmo caminho e voltaremos a ter mais espaço no mercado Europeu”, comentou.
Para a realidade do futebol candango, o treinador da nova geração enxerga que os clubes locais precisam pensar em se profissionalizar mais para conseguir ter êxito em seus projetos. “Trabalhei em Brasília no Ceilandense sub-20 em 2016. O meu planejamento a curto prazo é dirigir novamente uma equipe aqui e ajudar no processo de crescimento do nosso futebol. Porém sabemos a dificuldade financeira que os clubes têm e como isso acaba fazendo com que profissionais, que poderiam ajudar no crescimento do futebol do DF, procurem oportunidades em outras cidades ou até mesmo em outros países ainda que não sejam tão desenvolvidos e populares. Acredito que se tivermos um suporte maior, tanto na estrutura organizacional como na financeira, conseguiremos desenvolver melhor o nosso trabalho e colheremos os frutos a médio prazo”, finalizou.
Por Marcelo Gonçalo
Rodrigo Campos grande treinador, pessoa com uma capacidade grande pra demonstrar seu trabalho, pessoa q tem muito a ajudar o futebol local, e o mundo a fora tbm. Grande matéria, o futebol precisa disso, de pessoas totalmente capacitadas, principalmente o futebol do DF, q e precário por conta de não ter apoio, e pelo financeiro tbm, como disse na matéria o Rodrigo Campos. O futebol agradece por ter pessoas como vc Rodrigo que busca novas formas de trabalho para alavancar mais o nosso futebol, seja local, ou do Brasil inteiro. Tive o prazer de ser treinado por este fera, e o futebol agradece. Parabéns a matéria, e ao Rodrigo campos