Restam menos de 10 dias para o início do Campeonato Candango da Segunda Divisão de 2018. As onze equipes que brigarão pela chance de retornar à elite do Distrito Federal em 2019 estão fazendo o seu papel no campo burocrático, com investimentos e trabalho duro, cada qual ao seu modo. Porém, fora das quatro linhas, o cenário é caótico quando se é levada em consideração a questão dos estádios.

O Distrito Federal possui atualmente quinze estádios espalhados em diversas regiões administrativas. Nenhum deles é privado: todos são geridos pelo Governo de Brasília. Enquanto Mané Garrincha e Bezerrão são geridos pela Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer, as demais pertencem às respectivas Administrações Regionais. E nenhum possui os laudos exigidos para a prática do futebol profissional.

No papel, a obrigação de manter os estádios aptos para o desporto cabe aos órgão públicos. Porém, na prática, a coisa é bem diferente. Abandonados pelas gestões, o custo para se conseguir os laudos obrigatórios são repassados para os clubes. E as exigências vão desde uma tampa de privada (que custa algo em torno de R$ 30,00) à instalação de pára-raios (R$ 30 mil).

A situação é completamente diferente quando comparada às praças do entorno do Distrito Federal. Apesar de o Estatuto do Torcedor – Lei à qual normaliza os requisitos para a prática do futebol profissional – ser aplicável em todo o território nacional, Serra do Lago (Luziânia), Frei Norberto (Paracatu), Diogão (Formosa) e até mesmo o acanhado Luiz Alfredo (Novo Gama) possuem os laudos necessários para as disputas de campeonatos oficiais. Caso ninguém tome alguma providência, a possibilidade de os jogos da Segunda Divisão serem todos realizados no Entorno é iminente.

Porta na cara

Vendo o prazo cada vez menor para resolver o problema, a Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), por meio de seu presidente, Daniel Vasconcelos, juntamente do diretor técnico da entidade, Márcio Coutinho (Careca), tentaram diversas vezes marcar uma reunião com representantes do governo. Porém, todas as vezes que o encontro era marcado, acabava seguida de um cancelamento. “A federação já solicitou duas reuniões com o GDF, com o Secretário de Turismo, e ele não atendeu ninguém. Todas que ele marcou, ele desmarcou. Por quê será? Ele não dá resposta. Só quer negar, tudo o que é do futebol ele nega. Sinal de que eles não querem nos receber”, relatou Márcio Coutinho à reportagem do DF Sports.

A intenção da reunião era pedir por respostas sobre os motivos que fizeram o GDF abandonar as praças esportivas. “Os estádios estão inoperantes, inacabados em função de que eles (o governo) não estão cuidando do patrimônio público. Em exemplo grande, o CAVE está parado desde as Olimpíadas (as obras). O Real F.C. tentou fazer uma PPP (Parceria Público Privada), o que eu acho que  o Governo poderia fazer com todos os clubes. Ou tira das Administrações Regionais e coloca a gerência para os clubes, e aí a gente toma conta”, continuou.

O mais surreal é que há menos de uma semana, o Mané Garrincha foi palco de um jogo válido pela Primeira Divisão do Brasileirão da Série A, recebendo mais de trinta mil torcedores. Coutinho explica que o laudo para o jogo de Vasco x Corinthians foi eventual. “O Mané Garrincha está tirando laudos de cinco dias, seis dias… A pergunta é, porque não tiram laudos de seis meses ou um ano? O que está acontecendo é que em jogos de grande porte, estão tirando laudos eventuais devido até à questão de público”, explicou em tom de insatisfação.

Em pleno ano de eleições, a possibilidade de que questões políticas atrapalharem o diálogo não está descartada. Mas Coutinho acredita que, se o governo receber os representantes dos clubes, a situação poderá ser resolvida. “A federação é apolítica. Temos que ser por todos. O governo que está na pasta precisa atender a todos, independente dos clubes ou de qualquer coisa. Eu acho muito viável que a parte política da coisa está atrapalhando. Em outubro tem eleição, está um jogo de empurra e as pessoas estão aguardando para ver até que ponto vai dar para que se receba a federação e os clubes para resolver a questão dos estádios. Ninguém aqui está pedindo nada de graça, a gente quer reunir federação, clubes e GDF para decidir o que fazer. A gente pode ajudar? Pode. Só não pode ficar enrolando a gente e no fundo não fazer nada”, finalizou.

Por Marcelo Gonçalo

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